“Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que pelejei para achar, era uma só coisa – a inteira – cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver – e essa pauta cada um tem – mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é. E que: para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto; mas, fora dessa consequência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é o errado. Ah, porque aquela outra é a lei, escondida e vivível mas não achável, do verdadeiro viver: que para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador – a sua parte, que antes já foi inventada, num papel…”
RIOBALDO - GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
– Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
– Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Manuel Bandeira
SEÇÃO "CULT"
Charadas “novíssimas” – em homenagem a Zenóbia Borges, mestra nas charadas.
DIFÍCEIS
- 'O primeiro' que 'brinca' 'com água', pega 'micróbio' – 2,2,2
- 'Pia', 'fia', 'delicía' (três verbos na terceira pessoa) – 2,1
- 'Divindade', 'calamidade', 'cidade' – 2,2
- 'Vejo' que 'haverá' 'piedosa' 'cura' - 2,2,1
- A 'metade de quatro' mais 'quinhentos' é igual a 'quarenta' - 1,2
NÃO-DIFÍCEIS
- 'Meio palmo' de 'extensão' 'tem o pé' – 1,2
- 'É' 'alto' 'pra burro' – 1,2
- 'Jesus' olhou pelo 'buraco' e 'descobriu a América' - 2,1
- O 'porco inglês' 'não é teu, nem dele', é do 'homem pequeno' - 1,1
- 'Foi' o 'vinho' que 'acabou' - 1,2
- Sou 'meio santo', 'sadio' e 'muito forte' - 1,1
- No 'mato', o 'princípio da vida' é 'bárbaro' - 2,1
Regras
A frase da charada apresenta dois, três ou mais temas e mais o conceito, todos entre ‘ ‘ na frase.
Deverá ser encontrado o significado de cada tema, cujas sílabas juntas (concatenadas) e na ordem apresentada, deverão formar a palavra-conceito (o último termo). O número de sílabas de cada tema é indicado no final da charada.
O significado pode ser um sinônimo do tema ou uma palavra relacionada. Deve ser respeitada a ortografia, podendo ser o significado homógrafo ou homófono. Alguns significados, consagrados nas charadas podem ser usados.
Exemplos: “meio livro” – pode ser “li” ou “vro”; “no começo da era” – a letra “e”.
Exemplo de charada novíssima:
Com um instrumento agrícola, a vaca alimenta o bobo. 1,2
instrumento agrícola = pá (1 sílaba)
vaca alimenta = teta (2 sílabas)
bobo = pateta.
A charada formada refere-se ao conceito, nada tendo a ver com a frase.